Nelson Goldenstein, Author at ABAPSI https://abapsi.com.br/author/nelson/ Informações relacionadas à saúde mental Wed, 02 Oct 2024 16:33:28 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.6.2 https://abapsi.com.br/wp-content/uploads/2022/08/cropped-abapsi-transparente-32x32.png Nelson Goldenstein, Author at ABAPSI https://abapsi.com.br/author/nelson/ 32 32 As manifestações esquizofrênicas https://abapsi.com.br/as-manifestacoes-esquizofrenicas-2/ https://abapsi.com.br/as-manifestacoes-esquizofrenicas-2/#respond Mon, 24 Jun 2024 11:30:31 +0000 https://abapsi.com.br/?p=1488 Muitos autores têm simplificado sua descrição pela subdivisão das manifestações em sintomas “positivos”, que aparecem a partir de um episódio esquizofrênico agudo, e em sintomas “negativos”, que consistem em um particular comprometimento das funções cognitivas envolvidas na interação social.

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A esquizofrenia é marcada pelo comprometimento de algumas “ferramentas” necessárias ao funcionamento da inteligência, como a atenção, a memória, a capacidade de abstração e de planejamento, mas considera-se que a inteligência não é atingida diretamente.  É importante destacar que o esquizofrênico não sofre de déficit intelectual, e sim de uma alteração na forma de utilizar seus recursos mentais.

Certas perturbações, ditas “cognitivas”, estão em parte presentes mesmo antes da aparição das manifestações agudas. Em geral, os comprometimentos cognitivos e as manifestações negativas resistem por muito mais tempo que os sintomas positivos, e são os principais responsáveis pelas dificuldades profissionais, e de interação social, enfrentadas pelos pacientes.

Muito além desta subclassificação de sintomas positivos e negativos, é fundamental que familiares e amigos possam reconhecer, empaticamente, um dos aspectos mais marcantes e abrangentes para a pessoa que sofre desta condição: uma estranha vivência subjetiva de transformação de si e do mundo, fazendo com que ela experimente uma assustadora sensação de ter sido modificada e transformada corporalmente, produzindo a convicção de que ela não pertence mais à realidade de seu entorno. 

Como que lançados para uma outra dimensão existencial, muitos pacientes chegam a acreditar que sofreram um processo de transformação alienígena, que foram “abduzidos”, ou que sofreram alguma espécie de transformação genética, tamanha a vivacidade e intensidade desta sensação. 

Quase inevitavelmente, esta vivência é acompanhada de um insuportável sentimento de estranheza, isolamento e solidão, não havendo mais a sensação de imersão automática e inerente no mundo, via de regra, perseverando um severo auto julgamento e sentimento de desmoralização, por se sentirem fracassados e existencialmente incompetentes.

Destaca-se que estas vivências estão entre algumas das principais causas de retração social e de comportamentos auto destrutivos, como os freqüentes atos de auto agressão, comportamentos de alto risco e impulsos suicidas. Da mesma forma, é importante destacar que estes aspectos nada têm em comum com atos de violência praticados por certos sujeitos, doentes ou não. O comportamento violento e perigoso não é uma característica dos transtornos esquizofrênicos.

Os sintomas “positivos” mais freqüentes.

Alucinações

As alucinações são percepções sensoriais que têm como origem a mente do sujeito, e são causadas pela própria condição esquizofrênica. Por exemplo, os indivíduos esquizofrênicos podem ouvir vozes (alucinações auditivas) que uma pessoa sadia colocada na mesma situação não ouviria, ou ver coisas (alucinações visuais) que outra pessoa não perceberia. Estas alucinações (que podem também afetar o paladar, o olfato, o tato ou a percepção interna dos elementos do nosso corpo) são muito perturbadoras para o paciente que as vivencia, e criam enormes dificuldades para a pessoa distinguir as alucinações das percepções reais. Para ele, as vozes são muito reais e ele pode agir, por conseqüência, de uma forma incompreensível para as outras pessoas. As alucinações mais características são vozes que falam entre si, comentando e criticando o comportamento do paciente.

Idéias delirantes

Consistem em convicções não compartilhadas por outros. A pessoa persistentemente as considera verdadeiras, mesmo na presença de provas que demonstrem o contrário. Ele pode ser convencido de que é perseguido (delírio de perseguição), de que é Deus (idéias delirantes místicas) ou de que é o centro dos acontecimentos que ocorrem ao seu redor (idéias de referência). Habitualmente, estas convicções não podem ser modificadas por fatos ou argumentos, mas apenas pelo tratamento medicamentoso. Geralmente, ele é incapaz de compreender que estas idéias estão erradas, e de que é ele quem está doente. Em alguns casos, esta pode ser uma das razões porque seu comportamento e sua conduta se tornam incompreensíveis às pessoas ao seu redor.

Distúrbios do pensamento

Muito freqüentemente, a pessoa que sofre de forma esquizofrênica não consegue se comunicar dentro dos parâmetros da lógica formal compartilhada. Seu pensamento e discurso podem se tornar desorganizados, ou mesmo adotar uma forma totalmente individual e particular, plena de novos conceitos e expressões de significado próprio, tornando-se difícil, ou incompreensível para quem o escuta.

Alteração da percepção de si mesmo

Não raro, o individuo que adoece de forma esquizofrênica vivencia uma radical transformação em seu senso de identidade pessoal. A vivência pessoal é de que a fronteira entre ele mesmo e o meio ao seu redor se dissolve. Esta vivência se manifesta, por exemplo, através da convicção de que os outros podem ler seu pensamento, podem introduzir idéias diretaente em sua mente, ou mesmo comandar suas ações e atitudes.

Muitos pacientes brigam com seus familiares por acharem, em seus desesperos, que eles já sabem o que está ocorrendo, mas que não querem ajudá-los. No entender do paciente, a convicção é de que seus dramas pessoais estão sendo transmitidos para os demais familiares, através de telepatia, ou por alguma outra forma de publicação de sua vida íntima (pela televisão, por exemplo), enquanto na realidade os familiares nem têm a menor idéia do que está verdadeiramente ocorrendo (quando não estão tanto, ou mais assustados do que o próprio paciente).

Distúrbios de comportamento

Como resultado de uma importante mudança na consciência de si mesmo e do mundo, podem ocorrer profundas mudanças no comportamento, tornando-se relativamente bizarros, e ou confusos e desorganizados, incompreensíveis para as pessoas ao seu redor.

Os sintomas “negativos” mais freqüentes

Falta de energia e motivação

A falta de energia é o sintoma negativo muito freqüente. A pessoa pode sentir uma perda de vivacidade, de entusiasmo e de interesse, em geral. Para as pessoas ao redor, isto se revela por uma incapacidade de assumir responsabilidades em casa, no trabalho ou na escola, podendo ser mal interpretado, e gerando grandes fontes de conflitos.

Embotamento afetivo

O paciente pode eventualmente perder a capacidade de expressar suas emoções. A voz perde sua entonação anterior, e a expressão facial se torna reduzida ou mesmo ausente. É importante destacar que este prejuízo na capacidade de expressar suas emoções leva a errônea interpretação de que o individuo que adoece de forma esquizofrênica perde completamente os sentimentos.

Perda do sentimento de prazer (anedonia)

O paciente perde sua capacidade de sentir prazer (e por vezes também de desprazer). O mundo se torna “cinza” e indiferente. Até mesmo atividades de lazer, que anteriormente eram buscadas, tornam-se desinteressantes, trazendo aflição e sofrimento ao paciente.

Retraimento social

Freqüentemente, os pacientes desenvolvem uma intensa ansiedade social, com acentuada dificuldade para interagir nas relações interpessoais. Seja por falta de interesse pelo seu meio, seja por medo e vivência de inadequação psíquica e corporal, o intenso sentimento de estranheza, e de não inserção no mundo compartilhado, acabam contribuindo para o comportamento de retração no contato social, e mesmo familiar.

Pobreza na expressão dos pensamentos

Os pacientes podem se tornar muito pouco propensos a se expressar espontaneamente, podendo apresentar dificuldade generalizada para o uso da palavra e dos conceitos, assim como importante lentidão geral do pensamento.

Depressão pode estar associada à esquizofrenia?”

O humor depressivo é muito comum entre os pacientes esquizofrênicos. Além disso, eles podem se sentir desencorajados e desmoralizados ao perceberem o impacto da doença em suas vidas. O risco de suicídio é muito mais significativo do que na população geral. As idéias suicidas devem ser levadas muito a sério e, quando presentes exigem imediata busca de ajuda.

Dificuldades não aparentes

Habitualmente, as manifestações esquizofrênicas são descritas através de uma linguagem médica, como se fossem limitadas a sinais e sintomas. Mas, é preciso esclarecer que esta doença não só afeta todo o modo de viver no mundo, como também consiste em uma transformação no “modo de ser particular”. Tais particularidades, são dificilmente expressadas através de palavras, pois abalam até mesmo a base das interações cotidianas que existe em cada ser humano com seus semelhantes, e com os objetos que nos cercam. Estas interações, “evidentes” para a maioria das pessoas (por exemplo: compartilhar um intervalo para tomar um café no trabalho, sentir o “clima” de um determinado ambiente social), podem perder a característica de evidência e de simplicidade para as pessoas acometidas pela esquizofrenia, e adquirir um caráter estranho e artificial. Para estas, todo tipo de situação aparentemente banal pode ser tornar, a partir de então, fonte de tensão. É importante observar que este “distúrbio da evidência natural” pode se tornar também fonte de criatividade artística, ou cientifica, uma vez que favorece uma visão não convencional das coisas

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Intervenção precoce nos quadros pré-psicóticos https://abapsi.com.br/intervencao-precoce-nos-quadros-pre-psicoticos/ https://abapsi.com.br/intervencao-precoce-nos-quadros-pre-psicoticos/#respond Thu, 14 Jul 2022 09:30:02 +0000 https://abapsi.com.br/?p=370 O desenvolvimento das últimas décadas tem trazido novas questões ao campo da saúde mental. Com os avanços e reformulações da assistência psiquiátrica mundial, como a recomendação universal do estabelecimento de cuidados aos portadores de transtornos mentais severos e persistentes de acordo com suas redes sociais, e a extinção dos antigos manicômios, aparecem novos temas que já se encontram na pauta das discussões dos próximos anos.

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A prática tem demonstrado que o tempo decorrido entre o surgimento das primeiras manifestações psicóticas em uma pessoa e o primeiro contato com a rede de saúde geralmente ultrapassa um ano. Além disso, o tempo entre as alterações mentais iniciais (ainda não psicóticas) e o recebimento dos primeiros cuidados costuma ser ainda maior, ultrapassando incríveis quatro anos. Estudos clínicos e epidemiológicos têm sugerido que a duração do tempo de psicose não tratada e fases preliminares ao aparecimento da doença têm forte impacto sobre o prognóstico dos quadros psicóticos, seja em termos clínicos ou sociais.

Hoje, sabe-se que cerca de dois terços das pessoas que atravessam esses períodos de adoecimento pré-psicótico sofrem de manifestações depressivas, avaliadas entre moderadas e graves. Dentre estas, quase noventa por cento apresentam plano suicida ou cometem tentativas graves. Na média, dez por cento alcançam êxito letal. Não são números desprezíveis. Isto, sem falar nos indivíduos que adotam condutas claramente autodestrutivas, como o uso abusivo de álcool e outras drogas, além de outros comportamentos de alto risco, incluindo a direção perigosa. Quase todos encontram no isolamento social, parcial ou total, sua forma de autodefesa.

Do ponto de vista intuitivo, não é difícil compreender o que representa para um indivíduo que começa a adoecer: a vivência de fracasso, estranheza, vergonha e a apavorante certeza subjetiva de estar enlouquecendo.

Devemos considerar que esses quadros são inevitáveis, prenunciando uma gravidade e cronicidade natural? Ou podemos substituir essa abordagem, considerando os novos dados, que indicam melhores resultados terapêuticos quando se intervém mais precocemente?

Se consideramos como válidos os resultados positivos das novas pesquisas voltadas para as intervenções precoces, devemos mudar nossas referências e preconceitos, ainda enraizados nos tempos da exclusão manicomial. Isso consiste no investimento em cuidados na saúde das crianças, adolescentes e adultos jovens, para que pessoas vulneráveis possam receber os cuidados necessários em tempo hábil. Mundialmente a tarefa de reconhecer e intervir precocemente, impedindo ou atenuando a gravidade dos quadros psicóticos, compõe a ordem do dia.

Leia mais sobre esse assunto em: http://oglobo.globo.com/opiniao/superem-preconceito-3580296#ixzz1kz9fOI9O

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Os grupos psico-educativos https://abapsi.com.br/os-grupos-psico-educativos/ https://abapsi.com.br/os-grupos-psico-educativos/#respond Thu, 14 Jul 2022 09:29:40 +0000 https://abapsi.com.br/?p=368 Geralmente, o paciente e sua família têm muitas perguntas em relação às causas, à evolução e ao tratamento da esquizofrenia, assim como sobre a prevenção de recaídas. Estas questões devem ser respondidas durante as consultas com os profissionais envolvidos no tratamento, ou através de material informativo como este. Existe ainda um terceiro recurso complementar: os grupos psicoeducativos.

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Em geral, o paciente e sua família não participam do mesmo grupo. São formados grupos de pacientes e grupos de familiares, paralelamente. Dentro destes grupos, o paciente e a família podem tirar todas as dúvidas em relação à doença. Os profissionais que promovem os grupos – geralmente psiquiatra, psicólogo, enfermeiro ou assistente social – responderão e colocarão em debate com os membros do grupo todos os aspectos da doença e de seu tratamento.

Os membros consideram muito útil a troca de experiências com outros pacientes e outros familiares. As pessoas se ajudam mutuamente a resolver seus problemas. Em resumo, os grupos constituem um espaço onde pacientes, familiares e cuidadores compartilham informações e suas experiências livremente. Estes grupos são, por vezes, formados durante o período de hospitalização do paciente, em outras vezes, em serviços de atendimento ambulatorial. Os estudos mostram que as recaídas são menos frequentes quando pacientes e familiares participam destes grupos. Geralmente, são realizadas sessões em intervalos curtos. Em seguida, numerosos grupos decidem continuar, sob a forma de ajuda mútua, sem um orientador profissional.

A literatura atual indica que os pacientes e sua família que participam destes grupos não são apenas melhor informados a respeito da doença e de seu tratamento, como também tornam-se mais preparados para enfrentar momentos mais delicados e difíceis, tornando as recaídas bem menos frequentes, ou mesmo mais atenuadas.

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