Causas e questões diagnósticas

Conhecemos apenas imperfeitamente as causas da esquizofrenia– dizemos que se trata de um conjunto de fatores, de naturezas muito diferentes (biológicas, psicológicas e sociais) que parecem agir de modo sobre-determinado para que a doença se manifeste.

A esquizofrenia não é uma doença neurológica, embora envolva profundas alterações no funcionamento de circuitos neuronais, modificando a vida mental. 

Ainda não sabemos precisamente quais áreas e circuitos neurais estão envolvidos, mas sabemos que certos padrões de formação de circuitos neuronais se revelam alterados antes das primeiras manifestações mais graves, e que estes padrões de alteração não são consequência da doença, nem de seu tratamento. Estas alterações têm implicações na pessoa como um todo, e em sua maneira de interagir com o mundo.

Embora o cérebro seja o órgão que realiza e integra nossa atividade mental, a atividade mental é o resultado da complexa articulação entre nossa estrutura biológica e o mundo social. Através dela pensamos, sentimos, interpretamos, percebemos nossas experiências e controlamos nossas ações para interação no espaço social. A esquizofrenia se expressa por importantes alterações no pensamento, sentimentos e emoções, assim como na percepção e interação social.

Todas essas funções não são perturbadas ao mesmo tempo, nem com a mesma intensidade. Existem grandes diferenças entre um paciente e outro, e grandes diferenças em um mesmo paciente no decorrer de sua evolução.

É importante destacar que, frequentemente, os sintomas podem desaparecer quase completamente por períodos muito longos.

Atualmente, consideramos que os fatores causais, particularmente os biológicos, não determinam diretamente a patologia, mas sim uma vulnerabilidade, uma espécie de fragilidade especial em face de algum tipo de adversidade. 

Ao serem confrontados com dificuldades que ultrapassem sua capacidade de resposta, sujeitos vulneráveis podem apresentar um episódio esquizofrênico. Este modelo explicativo da esquizofrenia é denominado modelo vulnerabilidade-estresse. Este modelo explicativo não deve ser confundido com a idéia de que a esquizofrenia é causada por estresse ambiental

Esquizofrenia como diagnóstico no DSM

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (ou DSM, o sistema mais comum de diagnóstico e classificação de transtornos mentais) descreve aproximadamente a esquizofrenia como um transtorno caracterizado por episódios psicóticos “nos quais o paciente perde a capacidade de testar e confirmar seu senso de realidade.”

A desvantagem do DSM

O DSM já foi concebido como uma ferramenta prática para médicos e psiquiatras. Assegurou que falassem a mesma língua ao discutir as queixas e sintomas dos seus pacientes. Antes da introdução do DSM, há cerca de 60 anos, cada psiquiatra usava a sua própria definição. Isso às vezes levava a uma grande confusão. Por quê um determinado paciente era psicótico, neurótico ou histérico? E qual era o significado exato dessas definições?

Desde o início, ficou claro que os diagnósticos do DSM não deveriam ser vistos como doenças fixas, mas mais como descrições e conceitos acordados. Mesmo assim, o DSM é cada vez mais utilizado e apresentado de forma errada.

 ‘O DSM diz isso, então deve ser verdade’

Presumir que uma determinada doença existe apenas porque está descrita no DSM é um grande erro. Não é assim que as descrições diagnósticas deveriam ser usadas. O diagnóstico de “esquizofrenia” é apenas um conceito baseado em acordos entre psiquiatras, não é uma descrição objetiva e fixa de uma doença real.

A questão subjacente é que os transtornos mentais são muito mais difíceis de associar a uma única causa. Isso é diferente da saúde física. Quando você tem uma perna quebrada, o problema pode ser perfeitamente descrito por um diagnóstico padrão. Você verifica uma série de sintomas relacionados e então conclui: o osso da perna está quebrado. O tratamento que se segue a este diagnóstico também é muito mais claro. Algumas semanas com gesso, seguidas de exercícios de reabilitação, e você terá recuperação garantida.

Tudo isto é muito mais complicado no caso dos transtornos mentais. Não só variam muito mais de pessoa para pessoa, como também são muito mais vagos e difíceis de descrever. Além disso, há muito mais incerteza sobre a(s) causa(s) exata(s) dos sintomas, que envolvem múltiplos fatores. 

As causas exatas variam muito entre os pacientes, assim como a maneira como eles vivenciam os sintomas. Consequentemente, um transtorno mental deve ser investigado caso a caso. E o tratamento eficaz deve basear-se na pessoa e não na doença.

O tipo de tratamento pode variar fortemente entre as pessoas. As soluções padrão só funcionam para problemas padrão, mas não para sofrimento psíquico, que é sempre extremamente pessoal e não pode ser compreendido sem olhar para o contexto.

O dilema da psiquiatria biológica

Não é difícil explicar por que a esquizofrenia é vista sob uma luz tão negativa. Ouça como os especialistas em psiquiatria biológica falam sobre esquizofrenia. Eles chamam isso de uma “doença cerebral devastadora da qual você nunca poderá se recuperar”.

Até mesmo as revistas científicas mais respeitadas, como Nature e Science, vêm dizendo há anos que a esquizofrenia é uma doença cerebral genética que não tem cura. Isto é o que a revista científica de maior prestígio do mundo, Science, tem a dizer sobre a esquizofrenia:

“Uma vez que os sintomas da esquizofrenia ocorrem, eles persistem durante toda a vida do paciente e são quase totalmente incapacitantes”.

A psiquiatria biológica determina a imagem que a sociedade tem dos pacientes com esquizofrenia. E isto inclui a imagem construída pelos políticos que decidem quantos recursos (financeiros) devem ser gastos em cuidados de saúde mental. Por que gastar dinheiro cuidando de pessoas que nunca se recuperarão?

Mas tenha em mente: NÃO há prova científica de que você possa realmente considerar a esquizofrenia como uma doença cerebral. Parece convincente. É o que a mídia costuma dizer. Mas isso simplesmente não é verdade no sentido científico. Quase poderíamos desejar que fosse assim tão simples, porque a verdade é menos clara e muito mais complicada.

As variações genéticas que levam ao diagnóstico da esquizofrenia não estão especificamente ligadas à doença. Além disso, também ocorrem com outros transtornos psiquiátricos, como transtorno bipolar e depressão.

A verdade é que 50 anos de extensa investigação biológico-psiquiátrica não identificaram um único biomarcador diagnóstico, nem um único distúrbio psicológico. 

A principal revelação da psiquiatria biológica é que não existem resultados diagnósticos dos quais possamos deduzir que os transtornos mentais (como a esquizofrenia) possam ser atribuídos a uma doença específica. Não é o tipo de conclusão popular na imprensa. E, portanto, esta verdade dificilmente é compreendida pela maioria das pessoas.

Apoiamos a investigação biológica

O que nos opomos, contudo, é a explicação simplificada dos resultados incertos da investigação. Principalmente quando esta má interpretação tem consequências negativas para o bem-estar dos pacientes.

Conclusão: deixe o futuro começar.

O tempo de simplesmente rotular um paciente psiquiátrico deve chegar ao fim. A complexidade dos transtornos psiquiátricos está simplesmente além da nossa compreensão atual em termos de “doenças do cérebro”. Em todo o mundo, vozes cada vez mais poderosas falam para desmantelar o mito da esquizofrenia. Ninguém merece ser condenado a uma perspectiva negativa ao longo da vida, através de uma combinação de preconceitos culturais e de uma conclusão diagnóstica infundada. A recuperação pessoal, no sentido de vivenciar uma vida plena e significativa, é possível para todos os pacientes com diagnóstico de transtorno psicótico.

Perguntas frequentes

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