A prática tem demonstrado que o tempo decorrido entre o surgimento das primeiras manifestações psicóticas em uma pessoa e o primeiro contato com a rede de saúde geralmente ultrapassa um ano. Além disso, o tempo entre as alterações mentais iniciais (ainda não psicóticas) e o recebimento dos primeiros cuidados costuma ser ainda maior, ultrapassando incríveis quatro anos. Estudos clínicos e epidemiológicos têm sugerido que a duração do tempo de psicose não tratada e fases preliminares ao aparecimento da doença têm forte impacto sobre o prognóstico dos quadros psicóticos, seja em termos clínicos ou sociais.
Hoje, sabe-se que cerca de dois terços das pessoas que atravessam esses períodos de adoecimento pré-psicótico sofrem de manifestações depressivas, avaliadas entre moderadas e graves. Dentre estas, quase noventa por cento apresentam plano suicida ou cometem tentativas graves. Na média, dez por cento alcançam êxito letal. Não são números desprezíveis. Isto, sem falar nos indivíduos que adotam condutas claramente autodestrutivas, como o uso abusivo de álcool e outras drogas, além de outros comportamentos de alto risco, incluindo a direção perigosa. Quase todos encontram no isolamento social, parcial ou total, sua forma de autodefesa.
Do ponto de vista intuitivo, não é difícil compreender o que representa para um indivíduo que começa a adoecer: a vivência de fracasso, estranheza, vergonha e a apavorante certeza subjetiva de estar enlouquecendo.
Devemos considerar que esses quadros são inevitáveis, prenunciando uma gravidade e cronicidade natural? Ou podemos substituir essa abordagem, considerando os novos dados, que indicam melhores resultados terapêuticos quando se intervém mais precocemente?
Se consideramos como válidos os resultados positivos das novas pesquisas voltadas para as intervenções precoces, devemos mudar nossas referências e preconceitos, ainda enraizados nos tempos da exclusão manicomial. Isso consiste no investimento em cuidados na saúde das crianças, adolescentes e adultos jovens, para que pessoas vulneráveis possam receber os cuidados necessários em tempo hábil. Mundialmente a tarefa de reconhecer e intervir precocemente, impedindo ou atenuando a gravidade dos quadros psicóticos, compõe a ordem do dia.
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